Lenda do folclore paranaense

Há muitos e muitos anos atrás, quando o Paraná era coberto de matas e florestas (e ainda nem se chamava Paraná), viviam aqui muitas tribos indígenas. Eles chamavam a região dos campos sobre as serras de Paiquerê. Nunca houve em todo Paiquerê um índio como Curiaçu. Ele era mais alto e mais forte dos que todos em sua tribo. Seus companheiros o admiravam e seus inimigos o temiam. Os curumins queriam ser como ele. Curiaçu era incomparável na pesca, com uma pontaria tão precisa que pescava qualquer peixe que desejasse. Forte e corajoso, caçava como ninguém. Nunca deixava faltar alimento para sua tribo, mas gostava de caçar sozinho. Apesar de ser muito grande, seus passos eram largos e silenciosos, e seus movimentos, muito ligeiros.

Um dia, Curiaçu saiu para uma de suas caçadas. Embrenhou-se na mata seguindo os rastros de uma onça-pintada. Pressentia que algo o levava em direção à fera. Teve certeza disso quando avistou ao longe Guacira, filha do pajé da tribo inimiga, que estava procurando e coletando ervas curativas.

A onça se aproximou da moça e, quando esta percebeu, já era tarde demais para fugir. Sentiu que seu fim havia chegado, pois a onça pulou em sua direção.

Mais rápido do que seus pensamentos, Curiaçu armou-se de seu arco e soltou uma flecha ligeira, atingindo mortalmente a fera. Guacira levou um grande susto, e acabou desmaiando. Curiaçu correu até ela, pegou-a no colo e levou-a até o rio. Com cuidado, molhava o rosto da bela jovem para acordá-la. Ao despertar, os dois trocaram olhares enamorados.

Porém, aconteceu algo surpreendente. Um guerreiro da tribo de Guacira viu aquela cena de longe, reconheceu Curiaçu e pensou que a filha do pajé estava sendo raptada. Chamou então seus companheiros, que cercaram Curiaçu e começaram a atirar flechas no rapaz. Como grande guerreiro que era, lutou bravamente e conseguiu fugir, levando Guacira consigo mata adentro. Mas seu corpo estava crivado de flechas da cintura para cima. Fraco e sentindo que suas forças chegavam ao fim, pediu a Guacira que escondesse seu corpo, pois não queria ser encontrado por seus inimigos. A índia encontrou um buraco no chão, escondeu Curiaçu e o cobriu com folhas. 

Voltando pelo caminho que havia trilhado com ele, percebeu as gotas de sangue do guerreiro espalhadas pelo chão. Tratou de escondê-las e apagar os rastros. 

Quando os guerreiros foram embora e já não havia mais perigo, Guacira tentou encontrar Curiaçu para utilizar todas as ervas que conhecia para curar seu amado. Ela procurou e procurou, mas nunca mais o encontrou.

Algum tempo depois, naquele exato local, surgiu uma árvore enorme, lindíssima, de tronco marrom escuro, como o dorso de um índio. Seus galhos pareciam flechas cravadas no tronco. Foi assim que surgiu a primeira Araucária, o pinheiro-do-paraná.

Tupã apiedou-se da índia Guacira e transformou-a na gralha azul. 

Desde então, toda vez que os pinhões caem no chão, a gralha azul, pensando que são as gotas de sangue de Curiaçu, trata de esconder e enterrar. Nunca mais as encontra; assim como nunca foi encontrado o corpo de Curiaçu quando era índio.

Dos pinhões enterrados, foram nascendo outras Araucárias, formando assim, imensas e belíssimas floretas no Paiquerê.


Fonte: Lenda do Folclore Paranaense na versão de Maria Fernanda Campos.