O prazer de contemplar o céu noturno em toda a sua plenitude é algo que não está acessível para os que vivem nas cidades. Apenas alguns poucos corpos celestes com brilho aparente mais intenso, como a Lua e os planetas, e as estrelas mais luminosas, como Sirius e Canopus, se destacam no não tão escuro céu urbano, o que o torna menos interessante a possíveis observadores.
Isso ocorreu devido ao desenvolvimento de diversas tecnologias e em especial a iluminação artificial e ao uso de combustíveis fósseis. A luz artificial nos possibilitou avanços incríveis, estendendo o horário em que diversas atividades podem ser desenvolvidas e também aumentou a segurança para todos. A queima de combustíveis fósseis impulsionou máquinas que construíram o mundo contemporâneo onde vivemos, entretanto, esses dois fenômenos roubaram o céu daqueles que vivem nas cidades.
A P.L. (Poluição Luminosa) se caracteriza pela luz emitida para o alto, que ao refletir na atmosfera ofusca a visão daqueles que olham para o céu e impede que os astros sejam observados. É como se alguém voltasse o facho de uma lanterna na direção dos nossos olhos, não veríamos mais nada além da luz da lanterna, é isso que ocorre com a luz que inadvertidamente emitimos em direção ao céu.
Além disso, o acúmulo de gases, como o CO2 e também de material particulado, aumenta a reflexão da atmosfera, tornando ainda mais difícil a observação de astros pouco luminosos, principalmente nos períodos de estiagem, quando esses componentes artificiais tendem a se acumular sobre as cidades, tornando opaco o céu, mesmo sem nuvens.
Essa, provavelmente é a explicação para o espanto e admiração que muitas pessoas externam ao observar o firmamento na zona rural em uma noite de céu limpo e sem luar, quando estrelas de diversas luminosidades se espalham pela abóbada celeste formando um espetáculo que não pode ser visto das cidades.
É importante alertar aos que vivem no campo para a necessidade de planejar seu sistema de iluminação de forma a minimizar a parcela da luz emitida em direção ao céu. Muitas cidades e localidades, com destaque para aquelas com tradição na observação astronômica, estão direcionando esforços para criar uma legislação que normatize a iluminação artificial e reduza a PL.
Um exemplo negativo e muito usado é o globo branco sobre um poste, que pode até ser decorativo, entretanto, a maior parte da luz é emitida diretamente para cima, contribuindo para aumentar a poluição luminosa e reduzir a beleza do céu noturno. Por isso, para preservar o céu das localidades rurais, principalmente nos locais aonde vem ocorrendo adensamento populacional, é importante estar sempre atento aos tipos de refletores a serem usados e se certificar que a luz esteja realmente voltada para o que precisa ser iluminado, ou seja, o chão.
A seguir uma ilustração que compara diferentes tipos de refletores e sua eficiência em reduzir a PL, fica a dica.
Já que estamos escrevendo sobre a importância em preservar a beleza do céu, vamos deixar aqui algumas dicas de efemeridades astronômicas que vão ocorrer ao longo do mês de abril, para aqueles que desfrutam do céu do campo possam contemplar.
O Céu de Abril em São Luiz do Purunã
A Constelação de Orion – o Caçador -, que se destacou no céu ao longo de todo e verão, se põem cada dia mais cedo. Na outra extremidade do céu, no oriente, ao mesmo tempo em que Orion se põe, surge Escorpião, uma constelação muito bonita e fácil de ser identificada e que se destacará no céu ao longo do período do inverno.
A Lua Cheia ocorre no dia 07 de abril quando nasce às 18:14 horas para São Luiz do Purunã. Mais uma Super Lua, a maior do ano.
O grande destaque do céu logo após o anoitecer será o planeta Vênus, também conhecido com a Estrela Dalva, com brilho aparente bastante intenso na direção do poente.
Dia 26 de Abril a Lua Nova se junta ao planeta Vênus no poente dando um belo espetáculo.
Para aqueles que gostam das madrugadas, no dia 15 de abril, Júpiter, Saturno, Marte e a Lua se juntam no nascente a partir da Meia Noite. Os três planetas estarão em conjunção, aparentando estar próximos. Esses planetas nascerão cada dia mais cedo, estando presentes ao longo de todo o inverno.
Mapa celeste para São Luiz do Purunã, no dia 15 de abril, às 21:00 horas. Para identificar os astros, segure o mapa sobre a cabeça, orientando as direções cardeais do mapa com as direções reais do local do observador.
Que tal aproveitar essas dicas e observar o céu em abril? Mas, lembre-se: do seu jardim, da sua varanda, da sua janela! Vamos todos nos proteger e respeitar o isolamento social, para que logo possamos estar, juntos, fazendo novas observações e novas descobertas em São Luiz do Purunã.
Bom céu para todos!
Este artigo foi escrito por Julio Cezar Winkler, professor de Geografia, Mestre em Ensino de Astronomia pelo IAG/USP e Morador de São Luiz do Purunã.
Lindo artigo do Prof. Julio que, além de ensinamento científico, imprime poesia e emoção em seus textos…